domingo, 21 de setembro de 2008

NO REINO DAS CONTRADIÇÕES...

“As Contradições São As Nossas Esperanças”

(Bertolt Brecht)


Para mim é impossível não concordar com a afirmação do Brecht, principalmente se tratando da minha realidade latina americana, brasileira e especificamente cearense-potiguar, que é cercada e fundada em cima e em torno de inúmeras contradições. Não teríamos outra opção para vivermos do modo despojado e descontraído brasileiro, se não encarar a idéia otimista que nós trás essa sentença. Brecht mesmo tendo passado por duas guerras e presenciado o horror do nazismo alemão, produz a máxima otimista que cai como uma luva na nossa lógica brasileira vinculada maciçamente através daquela frase celebre que diz: “somos brasileiros e não desistimos nunca”, é por essa idéia que vivemos constantemente como eternos funambulistas na tentativa da sobrevivência e no controle da gangorra das contradições que nós cercam, vou me dar o prazer de citar as várias dessas oposições que nem de longe irão chegar próximo das reais quantidades existentes. Entre as que me refiro muitas delas vivencio diariamente.

Inicio com uma básica que está contida no livro O povo brasileiro de Darcy Ribeiro, segundo Darcy a primeira contradição que é fundada e instaurada no Brasil é referente a chegada dos europeus em nossas terras, como o mesmo descreve o que sucedeu foi o encontro “trágico”, de uma tripulação de pessoas empestadas de vírus e doenças que através dos tempos adquiriram imunidade aos agentes das mesmas, agravadas por meses e meses de viagem em caravelas que dispunham de uma básica ou mesmo inexistente estrutura de higiene, com índios atléticos e virgem de infecções que tinham o hábito constante de se banharem nas águas límpidas dos rios e mares brasileiros. Abro o parêntese aqui que a analise dessa contradição é bastante salutar aos olhos antropológicos. E não param por aí, em relação aos meios culturais acadêmicos e artísticos vinculo algumas das quais confesso são minhas preferidas, pois sempre que penso sobre elas só chego a conclusão que elas estão aí para nos ensinar melhor a lidar com nós mesmos, e realmente pensarmos em ações que pelo menos amenizem esses contrastes, entre elas estão: como se acredita em uma arte erudita, elitista, dotada de códigos específicos, que são compreensíveis somente para que tem acesso aos mesmos, quando grande parte da população brasileira é formada de semi-analfabetos, analfabetos funcionais e políticos que se quer têm acesso aos principais bens artísticos da humanidade? Como no universo da academia, que subtende-se deveria ser o lugar de pessoas esclarecidas, bem resolvidas emocionalmente e maduras intelectualmente e onde se vincula a idéia e a bandeira do humanismo, pode ocorrer uma luta de egos tão exacerbada que gera desmembramentos tamanhos que interfere na formação dos futuros formadores de opiniões e educadores do país? Qual a probabilidade da estrutura do ensino básico dar certo em nosso país diante da realidade encarada por diversos professores, que os alunos que vão para a escola com o suposto objetivo de aprenderem determinado conhecimento, vão na verdade em busca da comida de que não dispõem em suas casas? Como o artista do nosso estado e do país que paga para a produzir a própria arte e tem que dispor de “um amor a arte inabalável” não é aceito e respeitado em sua própria sociedade? Por que temos o velho ranço subserviente de só valorizar o que nos é mandado de além mar, pelos tops do mundo, e desvalorizamos tanto os nosso s pares, a nossa gente? Por que não cansamos de dizer que o problema da não compreensão da arte é da falta de “cultura” e “inteligência” do público e não de nós artistas que ás vezes teimamos em fazer uma arte narcisista que se fecha em nosso próprio mundo? Essas são algumas entre tantas questões que me instigam constantemente e me fazem repensar minha inserção na vida, no meio artístico, acadêmico. E para lidar com tantas indiosincrasias só mesmo a boa e velha poesia.

Patrícia Caetano

Artista Sutilmente Inconformada.

Um comentário:

Unknown disse...

Dei uma passa da por aqui, depois que vi o recado no meu e-mail...
Tá lindo o Blog!Ei, mulher,vc arrasa!
Vc é colorida como uma festa na rua.
Tudo de bom no seu trabalho!
Abraços bem "gostosos" :)