quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Jogo Limpo - O Sistema Educacional do Corporativismo.



Carta aberta para artistas e professores, sobre eventos lamentáveis no sistema de educação.

Natal, 18 de dezembro de 2008

Sou artista de formação e de opção, porém ao longo de seis anos de minha vida resolvi também ser professora de artes; não por querer ter um lugar ao sol e um salário fixo no fim no mês, mas porque acredito ser extremamente necessário repassar os conhecimentos que construí ao longo desses anos, por entender também, que a educação se dá em todas as instâncias e não somente na escola; e principalmente, por crer que a educação é um dos principais caminhos para a construção de uma autonomia pessoal que possibilita que o indivíduo atue no mundo com segurança e consciência de seu lugar no mundo. Ao longo de minhas experiências profissionais desenvolvi inúmeros processos artísticos com adolescentes e jovens dos quais surtiram modificações positivas em suas vidas, fato esse comprovado por nossas conversas, pelo relato dos próprios pais desses jovens, pela melhora no rendimento escolar dos mesmos e na mudança de suas visões do mundo. Cresci acreditando e fui estimulada por muitos autores das áreas da educação e da arte a crer na perspectiva de que o grande objetivo da educação é realmente a criticização dos cidadãos, para que os mesmos possam atuar no mundo de modo diferenciado, cientes dos processos sociais e econômicos nos quais estão inseridos.
Todo esse preâmbulo e a necessidade deste texto partiram de um episódio ocorrido na sala de aula da Especialização em Ensino de Arte realizada pelo PAIDEIA no Departamento de Artes da UFRN, Departamento esse, que vivenciei durante cinco produtivos anos, onde atuei nas mais diversas instâncias desde a graduação à iniciação científica e atualmente na pós-graduação. O episódio consistiu num relato de experiência solicitado pelo Professor Vicente Vitoriano no Módulo: Ensino de Arte na Contemporaneidade. Esse relato foi solicitado e optei por escrevê-lo de modo informal e colocar algumas de minhas angústias em relação à experiência que desde setembro venho vivenciando na rede municipal de ensino, especificamente na Escola Professora Maria Cristina Ozório Tavares situada no bairro de Filipe Camarão. Através de sorteio, o professor solicitou a alguns alunos que comentassem seu relato, que era o trabalho do módulo. Ao iniciar minha fala, situei as pessoas a respeito da estrutura que tinha elaborado meu relato e afirmei ter entendido que tinha liberdade na estruturação do mesmo, que poderia ser de cunho menos formal, expliquei que até poderia ter compreendido de forma equivocada, fato que seria natural, haja vista as diversas maneiras que os indivíduos têm de ler as informações que lhes são repassadas. De toda forma, continuei meu relato e expus os meus principais referenciais teóricos do trabalho e li alguns trechos do meu relato que tinha sido anteriormente escrito. Cheguei ao parágrafo onde comento sobre minha experiência na escola citada, foi então onde ocorreram os maus entendidos. Relatei como vinha trabalhando na escola e me debrucei bastante na dificuldade que vinha tendo com os 1° e 2° anos da escola, por questões de identificação pessoal, por não ter trabalhado anteriormente com crianças na estrutura do ensino formal e não ter tido na minha graduação, uma preparação específica para esse público. Comentei o quanto era grande minha dificuldade para lidar com crianças. Durante minha fala teci inúmeras criticas ao sistema de educação como um todo e direcionei três críticas à escola na qual atuava: critiquei a presença do projeto segundo tempo, projeto do Governo Federal, no sentido de o mesmo ocupar alguns espaços da escola concorrendo com outras atividades já existentes na escola, inclusive com um projeto de pesquisa e prática da manifestação folclórica do Pastoril que vinha desenvolvendo na escola; outra crítica foi a ausência de um acompanhamento pedagógico para meu trabalho, pois planejei, com exceção do primeiro dia de planejamento, sempre sozinha e sentia uma necessidade de um acompanhamento para amenizar essa minha dificuldade com as séries que trabalho; outra crítica foi em relação a uma atividade de literatura que vi exposta no corredor da escola e citei que não concordava como essa atividade tinha sido exposta. A atividade continha erros de português. Mesmo sabendo da importância da oralidade, acredito que deveria se ter contextualizações a esse respeito, pois como professor, devo mostrar as formas corretas da língua portuguesa nos trabalhos realizados com os alunos. Dentre todas as críticas, a que julgo menos relevante é da atividade de literatura, mas me sinto no direito de explicitar minhas opiniões a cerca de situações que não concordo. Porém, como todos os demais, estamos sujeitos a má interpretação de nossas palavras, a ponto de vista diversos, que muitas vezes não condizem com a realidade de nossos comentários e nem com a intenção de nossa fala, sobre nossas atitudes e posicionamentos. O fato é que fui exposta na escola por uma colega de trabalho. A mesma chegou até a direção da escola e a partir de seu ponto de vista, que, aliás, é sempre a vista de um ponto, colocou a sua versão de minha fala; segundo ela, com o filtro da vice diretora, eu critiquei abertamente e publicamente a Escola Professora Maria Cristina, e “Disse que a escola era um exemplo de desorganização, chamei os alunos de bichos e ainda disse...” o que? Foram tantas coisas disparatadas que nem me lembro mais. O caso é que fui chamada para uma conversa com a diretora, a vice-diretora e uma representante do conselho escolar onde foi despejada a versão odiosa de minha fala. O que sei é que vivo num estado teoricamente democrático e posso e tenho o direito de expressar minhas opiniões acerca dos problemas que identifico na área na qual atuo, que é a educação. Não consigo entender o motivo dessa conversas; Onde se tem maturidade para discussão, quando alguém coloca alguma opinião na qual outro alguém discorda e esse alguém está com dúvidas sobre a fala, o mínimo que se tem a fazer é perguntar sobre a dúvida. Não fazer conclusões precipitadas sobre a fala de outra pessoa na ausência da mesma. Não posso acreditar que numa sala de pós-graduação, onde se acredita existem pessoas maduras e esclarecidas aconteça leva e trás a partir de relatos que se subentende devem ser limitados a sala de aula. Resumindo: por conta desse episódio fui convidada a me retirar da escola onde trabalho e saí como errada, como antiética e sem profissionalismo. Mesmo tendo direito a resposta durante a conversa com as pessoas da escola, fui convidada a sair da mesma; é fato que anteriormente solicitei à direção a possibilidade de no ano de 2009 ficar somente com as turmas dos 3°, 4º e 5° anos, mais foi apenas uma conversa e eu estava, informalmente, procurando uma escola de sexto ao nono ano para ver a possibilidade de mudança. Mas o que aconteceu é que, por uma má interpretação de minha fala, por um leva e trás sem fundamento, fui lesada e estou saindo da escola com uma péssima imagem. Na verdade gostaria de saber: o que é uma atitude antiética? É antiético alguém relatar um dificuldade profissional numa sala de aula de pós graduação e tecer algumas críticas sobre a escola na qual trabalha, mas não é antiético uma colega de pós-graduação e trabalho, fazer comentários maldosos de uma fala realizada em sala de aula, sem mesmo saber se a interpretação do que ouviu condiz com a verdade e prejudicar outra pessoa profissionalmente? Acredito que nesse caso deveria se ter uma discussão do que é ou não ético; a educação é uma área bastante complicada que dispõe de profissionais mal pagos e muitas vezes não realizados com o que fazem, mas não posso concordar com conchavos, dissimulações e conluios realizados às escondidas. Enquanto eu puder, repudiarei práticas dessa natureza.
Este texto é para ser lido por quem interessar possa, para fazer valer que as injustiças não podem continuar sendo aceitas e disfarçadas.

Grata pela atenção e pela compreensão,

Patrícia Caetano de Oliveira